Despedida

'Doar órgãos amenizou a dor', diz avó de jovem morto na BR-493

Guilherme Lima Correa foi a 7ª vítima do trágico acidente

Familiares e amigos soltam corações vermelhos
Familiares e amigos soltam corações vermelhos |  Foto: Lucas Alvarenga
  

"A doação de órgãos amenizou nossa dor". A frase é de Valéria Assis Guimarães, de 52 anos, no velório do corpo do seu neto Guilherme Lima Corrêa, de 14 anos, nesta sexta-feira, no Cemitério Parque Nichteroy, no bairro do Laranjal, em São Gonçalo. O adolescente foi a sétima vítima do acidente na BR-493(Magé-Manilha), em Guapimirim, no último fim de semana, quando o motorista de um caminhão perdeu o controle da direção do veículo e colidiu com o carro de uma família (pais e irmãos de Guilherme). 

Guilherme ficou internado no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, até ter a morte encefálica decretada, na segunda-feira (20), mesmo dia do sepultamento dos corpos das outras vítimas também no Parque Nichteroy. A família decidiu por doar os órgãos dele e mais de 30 pessoas já foram beneficiadas com a atitude, recebendo rins, fígado, pele, ossos, tecido e sangue. O fígado foi encaminhado para um doador em Minas Gerais. 

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Além de Guilherme, também morreram no acidente Letícia Gabrielle Fernandes de Lima, 32 anos, mãe das crianças; Jonatan Guimarães Corrêa, 35, pai; e os irmãos Gabrielle Lima Corrêa, 10; Enzo Gabriell Lima Corrêa, 5; Isaque Lima Corrêa, 8 e Larissa Lima Corrêa, 2. 

Ao ENFOCO, Valéria Assis Guimarães, de 52 anos, a avó das crianças e mãe de Jhonatan, falou sobre o ato de doar os órgãos do neto. Ela conta que Guilherme morreu sem saber o que houve com os pais e irmãos, já que ele também não havia despertado no tempo em que ficou no hospital. A decisão de doar os órgãos partiu da família assim que eles souberam da equipe médica que ele não estava mais respondendo aos estímulos. Isso tudo aconteceu no mesmo dia em que eles sepultaram o resto da família, após o velório.

Valéria Assis era mãe de Jhonatan, de 35 anos, que também morreu no acidente
Valéria Assis era mãe de Jhonatan, de 35 anos, que também morreu no acidente |  Foto: Lucas Alvarenga
     
Eu acho importante estarmos pensando no próximo porque sabemos que existem vidas lutando por um órgão, uma pele, um osso, seja o que for. Não hesitamos, não pensamos duas vezes, e essa atitude amenizou um pouco da dor Valéria Assis Guimarães, Avó de Guilherme
  

Valéria mora em São Gonçalo, e a família que morreu no acidente vinha de Santo Aleixo, em Magé, onde moravam, e estava indo para o aniversário de três anos da sobrinha de Jhonatan, que seria comemorado em Niterói naquele fim de semana. Jhonatan e Letícia moraram em São Gonçalo anteriormente, mas a família se mudou há anos para Magé. Christian e Guilherme moraram no ano de 2017 com a avó em Niterói, onde ela morava na época. 

“O Guilherme era saudável, cheio de vida, amoroso, carinhoso, educado com todos, ele era doce, amável, se te conhecesse agora falava para você que te amava, gostava de jogar futebol, hoje mesmo trouxe uma medalha dele de quando ele morou comigo. Ele e Christian moraram comigo porque os pais estavam com dificuldades de conseguir colégio onde ele morava no Rio e eu optei por pegá-los para ajudá-los. Ele estudou no Moreira Franco, colégio de Niterói, e eu coloquei ele para jogar futebol. Ele sempre dizia que quando virasse jogador ia me dar um carro, uma casa e eu dizia que não queria, que só queria que o sonho dele se realizasse. Ele e Christian adoravam jogar bola e eu não meço esforços de fazer por eles o que eu precisava fazer. O ano de 2017 foi o ano mais feliz da minha vida porque eles moravam comigo. Eu abri mão da minha vida em prol da deles, coloquei eles na igreja. Mas os pais e eles eram agarrados e eles resolveram voltar ao convívio deles”, contou Valéria. 

Christian ainda não sabe o que ocorreu com os pais, e Guilherme faleceu sem saber do ocorrido também. Valéria disse que o hospital está providenciando a documentação para que ela vá para o Conselho Tutelar e consiga a guarda do neto. 

Reclamação da estrada

Caminhão trafega pela BR-493, que liga Magé a Manilha
Caminhão trafega pela BR-493, que liga Magé a Manilha |  Foto: Lucas Alvarenga
  

Valéria pede que as autoridades olhem para a BR-493 para que obras sejam feitas na estrada e outros acidentes não tornem a ocorrer. 

“A estrada é perigosa, não é o primeiro acidente, outras vidas ali já foram ceifadas. Se as autoridades não fizerem nada por aquela estrada, essa obra não for concretizada, outras vidas serão ceifadas. Juntos somos mais fortes e vamos cobrar para que não ceifem mais vidas como a dos nossos familiares que sofremos muito. Não desejo que ninguém passe por essa dor que passamos, é imensurável”, disse ela.

Segundo Valéria, a empresa do caminhão envolvida no acidente prestou assistência colocando um representante à disposição da família e arcando com gastos dos velórios. O motorista do caminhão ainda não teve contato com a família. “Eu até vi uma mensagem no meu celular, mas eu ainda não tive condições de conversar com eles”, afirmou ela.

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